CoDAS
https://codas.org.br/article/doi/10.1590/2317-1782/20242023087pt
CoDAS
Artigo Original

Autopercepção da voz e conhecimento em saúde e higiene vocal de líderes religiosos do Candomblé no Brasil

Self-perception of voice and knowledge of vocal health and hygiene in Candomblé religious leaders in Brazil

Kenya Ayo-Kianga da Silva Faustino; Felipe Moreti; Mara Behlau

Downloads: 0
Views: 69

Resumo

Objetivo: Verificar a autopercepção de sintomas vocais e aerodigestivos, desvantagem vocal no canto e o conhecimento em saúde e higiene vocal em líderes religiosos do Candomblé do Brasil. Método: Participaram deste estudo 112 indivíduos, que preencheram virtualmente um questionário de identificação, caracterização, classificação das atividades profissionais em níveis e autoavaliação vocal no momento atual, além de três protocolos de autoavaliação: Escala de Sinais e Sintomas (ESV), Questionário de Saúde e Higiene Vocal (QSHV) e Índice de Desvantagem para o Canto Moderno (IDCM). Foram utilizados os testes de correlação de Spearman, teste de Mann-Whitney e teste de Kruskal-Wallis. Resultados: A autoavaliação vocal no momento atual variou de razoável a boa. A média do escore total na ESV foi de 23,04, acima da nota de corte. O QSHV apresentou valor médio de 23,54 pontos, próximo à nota de corte. O Índice de Desvantagem para o Canto Moderno (IDCM) mostrou média de 25,66 pontos. Houve correlação positiva de força substancial entre os escores totais da ESV e IDCM (0,789). Mulheres apresentaram maiores escores no ESV total e ESV limitação, além de maior escore no IDCM desvantagem. Profissionais do nível I - elite vocal (cantores e atores) apresentaram escores significativamente maiores para o QSHV que os profissionais do grupo IV (usuário não profissional não-vocal) e os do nível V (pessoas que estão fora do mercado de trabalho). A maioria dos respondentes não consultou Otorrinolaringologista (89,29%) no último ano e nem realizou fonoterapia (83,04%) por queixas vocais. Conclusão: Líderes do Candomblé apresentaram percepção de sintomas vocais e desvantagem vocal no canto, mais evidente nas mulheres, não havendo relação com o conhecimento de saúde e higiene vocal. Apesar da identificação de sintomas vocais, a maior parte dos sujeitos relatou não ter acessado profissionais de saúde responsáveis por esses cuidados com a voz no último ano.

Palavras-chave

Voz; Religiosos; Canto; Autoteste; Inquéritos e Questionários; Conhecimento; Sinais e Sintomas; Fonoaudiologia

Abstract

Purpose: To verify possible complaints, voice and aerodigestive symptoms, singing voice handicap, and knowledge of vocal health and hygiene in Candomblé religious leaders in Brazil. Methods: The study comprised 112 individuals who filled out a questionnaire with their identification and characterization, the stratified classification of their professional activities, and their self-perception of voice. Three self-assessment protocols - VoiSS, QSHV, and MSHI - were also used. Results: The self-assessment of voice ranged from average to good. VoiSS mean total score was 23.04, which is above the cutoff. QSHV mean score was 23.54 points, which is near the cutoff. MSHI mean score (the perception of singing voice handicap) was 25.66 points. There was a substantially strong positive correlation between VoiSS and MSHI total scores (0.789; p<0.001). Women had higher limitation scores (p=0.012) and total scores (p=0.012) in VoiSS and higher handicap scores (p=0.038) in MSHI. Level I professionals - vocal elite (singers and actors) - had significantly higher QSHV scores than those in levels IV (p=0.010) and V (p=0.008). Most respondents had not visited an otorhinolaryngologist (89.29%) within the last year and had not been submitted to speech therapy (83.04%) for voice complaints. Conclusion: Candomblé leaders, particularly women, perceived voice symptoms and singing voice handicaps, with no relationship with their knowledge of vocal health and hygiene. Despite the complaints, most subjects reported not having visited health professionals responsible for voice care within the last year.

Keywords

Voice; Religious Personnel; Singing; Self-Testing; Surveys and Questionnaires; Knowledge; Signs and Symptoms; Speech; Language and Hearing Sciences

Referências

  1. Leite GPA, Assumpção R, Campiotto AR, Andrade-Silva MA. O canto nas igrejas: o estudo do uso vocal dos coralistas e não-coralistas. Distúrb Comun. 2004;16(2):229-39.

  2. Penteado RZ, Silva CB, Pereira PFA. Aspectos de religiosidade na saúde vocal de cantores de grupos de louvor. Rev CEFAC. 2008;10(3):359-68.

    http://doi.org/10.1590/S1516-18462008000300011

  3. Hapner E, Gilman M. The vocal load of Reform Jewish cantors in the USA. J Voice. 2012;26(2):201-4.

    http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.01.003 PMid:21621383

  4. Palheta FX No, Silva IPC, Madeira AV, Menezes CRT, Rodrigues G, Navarro LM, et al. Análise da Saúde Vocal dos Pregadores das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia. Int Arch Otorhinolaryngol. 2009;13(4):407-12.

  5. Ribeiro VV, Santos AB, Bonki E, Prestes T, Dassie-Leite AP. Identificação dos Problemas Vocais enfrentados por cantores de igreja. Rev CEFAC. 2012;14(1):90-6.

    http://doi.org/10.1590/S1516-18462011005000055

  6. Lobo BPL, Madazio GMV, Badaró FAR, Behlau MS. Risco vocal em pastores: quantidade de fala, intensidade vocal e conhecimentos sobre saúde e higiene vocal. CoDAS. 2018;30(2):e20170089.

    http://doi.org/10.1590/2317-1782/20182017089 PMid:29723332

  7. Souza FB, Marinho ACF, Teixeira LC. Análise perceptivo-auditiva e autopercepção da voz em pastores evangélicos. Distúrb Comun. 2017;29(4):692-701.

    http://doi.org/10.23925/2176-2724.2017v29i4p692-701

  8. Pinheiro J, Silverio KCA, Siqueira LTD, Ramos JS, Brasolotto AG, Zambon F, et al. Sintomas do trato vocal e índice de desvantagem vocal para o canto moderno em cantores evangélicos. CoDAS. 2017;29(4):e20160187.

    http://doi.org/10.1590/2317-1782/20172016187 PMid:28902229

  9. Pinheiro LBM. Do canto popular ao “ponto cantado”: canção popular e musicalidade afro-religiosa. Mouseion (Canoas). 2018;30(30):85-104.

    http://doi.org/10.18316/mouseion.v0i30.4728

  10. Nogueira SB. A reconstrução do significado dos cânticos entoados em homenagem a Xangô, nos Candomblés de origem Yorubá, em São Paulo [dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2001.

  11. Prandi R. Segredos guardados: orixás na alma brasileira. São Paulo: Companhia das Letras; 2005.

  12. Nogueira SB. A palavra cantada em comunidades-terreiro de origem Iorubá em São Paulo: da melodia ao sistema tonal [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2008.

  13. Santos MAS. Meu tempo é agora. Salvador: Assembleia Legislativa do Estado da Bahia; 2010.

  14. Siqueira MA, Bastilha GR, Lima JPM, Cielo CA. Hidratação vocal em profissionais e futuros profissionais da voz. Rev CEFAC. 2016;18(4):908-14.

    http://doi.org/10.1590/1982-0216201618417415

  15. Moreti F, Rocha C, Borrego MCM, Behlau M. Desvantagem vocal no canto: análise do protocolo Índice de Desvantagem para o Canto Moderno - IDCM. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(2):146-51.

    http://doi.org/10.1590/S1516-80342011000200007

  16. Coelho JS, Moreti F, Pacheco C, Behlau M. Autopercepção de sintomas vocais e conhecimento em saúde e higiene vocal em cantores populares e eruditos. CoDAS. 2020;32(3):e20180304.

    http://doi.org/10.1590/2317-1782/20202018304 PMid:32638826

  17. Roza AP, Gielow I, Vaiano T, Behlau M. Desenvolvimento e aplicação de um game sobre saúde e higiene vocal em adultos. CoDAS. 2019;31(4):e20180184.

    http://doi.org/10.1590/2317-1782/20182018184 PMid:31483041

  18. Moreti F, Zambon F, Oliveira G, Behlau M. Cross-cultural adaptation, validation and cutoff values of the Brazilian Version of the Voice Symptom Scale - VoiSS. J Voice. 2014;28(4):458-68.

    http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2013.11.009 PMid:24560004

  19. Moreti FTG. Questionário de Saúde e Higiene Vocal - QSHV: desenvolvimento, validação e valor de corte [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2016.

  20. Koufman JA, Isaacson G. The spectrum of vocal dysfunction. Otolaryngol Clin North Am. 1991;24(5):985-8.

    http://doi.org/10.1016/S0030-6665(20)31062-8 PMid:1754226

  21. Behlau M, Alves Dos Santos LM, Oliveira G. Cross-cultural adaptation and validation of the voice handicap index into Brazilian Portuguese. J Voice. 2011;25(3):354-9.

    http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.09.007 PMid:20434874

  22. Gasparini G, Behlau M. Quality of life: validation of the Brazilian version of the voice-related quality of life (V-RQOL) measure. J Voice. 2009;23(1):76-81.

    http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2007.04.005 PMid:17628396

  23. Behlau M, Madazio G, Moreti F, Oliveira G, Dos Santos Lde M, Paulinelli BR, et al. Efficiency and cutoff values of self-assessment instruments on the impact of a voice problem. J Voice. 2016;30(4):506.e9-18.

    http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2015.05.022 PMid:26168902

  24. Landis JR, Koch GG. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics. 1977;33(1):159-74.

    http://doi.org/10.2307/2529310 PMid:843571

  25. Paulinelli BR, Gama ACC, Behlau M. Validação do Questionário de Performance Vocal no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2012;17(1):85-91.

    http://doi.org/10.1590/S1516-80342012000100016

  26. Costa T, Oliveira G, Behlau M. Validação do Índice de Desvantagem Vocal: 10 (IDV-10) para o português brasileiro. CoDAS. 2013;25(5):482-5.

    http://doi.org/10.1590/S2317-17822013000500013 PMid:24408554

  27. Lopes TVR, Ghirardi ACAM. Qualidade de vida em voz e sintomas vocais de cantores solistas amadores da Igreja Batista Palavra Viva de Florianópolis. Distúrb Comun. 2017;29(1):33-40.

    http://doi.org/10.23925/2176-2724.2017v29i1p33-40

  28. Sales CS, Silva SP, Medeiros AM. Desvantagem vocal em cantores populares. Audiol Commun Res. 2019;24:e2057.

    http://doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2057

  29. Jesus MTA, Ferrite S, Araújo TM, Masson MLV. Distúrbio de voz relacionado ao trabalho: revisão integrativa. Rev Bras Saúde Ocup. 2020;45:e26.

    http://doi.org/10.1590/2317-6369000040218

  30. Miranda ICC, Ladeira AC, Gouvêia VL, Costa VR. Auto-análise vocal de alunos do curso de teatro. Distúrb Comun. 2012;24(3):369-78.


Submetido em:
13/04/2023

Aceito em:
04/12/2023

68d32977a953952b005abc53 codas Articles

CoDAS

Share this page
Page Sections